OBRIGADO PELA VISITA:

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

II CAPÍTULO

CAPÍTULO II

 O QUE PENSAVAM (OU ATÉ PENSAM) SOBRE UM PASTOR?




Muitas coisas relevantes aconteceram na trajetória do ministério de meu pai pastor e que nos ajudaram a crescer como pessoa.
É importante frisar a idéia ou as idéias que a maioria das pessoas tem sobre o episcopado, não como honra ou genuíno sacerdócio, mas como uma mera função ministerial.
Pastor foi ou ainda é para alguns, sinônimo de um super homem. Além de tantas atividades e compromissos que envolvem sua vida, tais como: o cuidado com as vidas, ser um líder cristão que representa a igreja ante a sociedade, as responsabilidades eclesiásticas e tantas outras coisas, o pastor passou a ser uma espécie de “faz de tudo”. Quem sabe um querubim sem asas de recados divinos, um vice-onisciente ou um vice-onipresente”.
Atividades simples, que poderiam ser realizadas por pessoas qualificadas em áreas específicas, o pastor somar essas atividades ou funções em seu vasto currículo, mesmo que essas atividades o afastem do foco principal, fazendo-o cumprir o ditado, agora por mim modificado: “Não tem tu, vai o pastor mesmo”.
Diga-se de passagem, que em não raras ocasiões, o pastor tem que fazer das “tripas coração” para trocar a luz do templo ou até mesmo pagar as contas da igreja (quando a tesoureira não pode efetuar os pagamentos).
Por esta concepção, pastor que é “pastor”, até ganha alguns presentes em seu aniversário, mesmo que seja pago pelo próprio bolso, fato esse que aconteceu no ministério de meu pai.
Outra coisa administrativamente impactante na vida de um pastor é o fator tempo. É tempo para realizar visitas, ler a Bíblia e muitos outros livros. Tempo para orar, jejuar, apascentar (cuidar e tratar) as ovelhas. Tempo para ouvir problemas alheios e ajudar pessoas. É uma preciosidade na vida deste super dotado, como é na vida de qualquer outro tipo de gestor.
O pastor tem que ser psicólogo, um conselheiro certeiro, sem direito a margens de erro em suas vidências cristãs.
Uma vez meu pai ouviu a seguinte frase, que parece engraçada para não ser trágica:
- “Pastor eu vim aqui pra o senhor me ajudar, porque o senhor é o delegado dos crentes.” Era essa uma das absurdas idéias adotadas pelo o povo de pequenas igrejas do interior.
É um homem incomum, sem horários indisponíveis para a igreja. Não existe um só momento que ele não esteja atento, pois a qualquer momento pode chegar uma ovelha em sua casa para contar seus problemas.  Aliás, há irmãos que procuram o pastor sem nem saber o que realmente vão falar. Na hora inventam qualquer coisa, só para estar perto do santo de Deus.
Às vezes, chegam pessoas exatamente na hora do almoço e vão compartilhando algumas coisas de mansinho. Claro que sempre aproveitam e fazem o pacote completo. Comem sem nem querer saber se a comida preparada dar para todos. Daí vem à correria do FDP mudar o seu cardápio forçadamente. De imediato houve-se a famosa frase recitada em casa de pastor: “Frita um ovo ligeiro ai para interar o almoço do menino”.
Lembro-me muito bem quando aconteciam as grandes festas na igreja. Chegavam crentes de todas as partes e nossa casa se tornava na hospedaria principal. O mais interessante era na hora de todo esse povo dormir. Eu já ficava em pânico quando minha mãe ia arrumando as camas. Todos acomodados e distribuídos com lençóis limpinhos e fofinhos, mas eu logo perguntava:
- Mãe, onde vamos dormir?
A resposta era sempre a mesma:
- “No colchão que coloquei no quarto de seu pai para você e seus irmão. Vá lavar os pés e pule na cama ligeirinho”.
Queridos, a cabeça de um FDP nessas horas vai a mil. Os questionamentos são inúmeros, as dúvidas são imensas e as principais ladainhas fihopastoreanas são: “O que é que eu tenho haver com isso?” “Meu pai é chamado e eu tenho que ser sacrificado?”.
O interessante ainda é que o pastor tem que demonstrar que está tudo sobre controle em todas as situações. O autocontrole tem que ser sempre sobrenatural.  Na cabeça de muitos ele é um ser superior, quase que “anormal”. Não pode ter indisposição física. Não pode nem passar pela cabeça dele ter um lazer sozinho e nem ao pouco passear com a família. Todo mundo têm direito de viver seus momentos de lazer, ele não. Afinal, muitos acham que ele é pago pra viver, sem viver o que os “normais” vivem.
O pastor que realizou meu casamento é um especialista em assuntos familiares. Ele conta que certa vez, uma irmã solicitou disponibilidade em sua agenda para um aconselhamento num domingo a tarde. Ele marcou outra data por ter compromissos naquela ocasião. Chegando domingo à tarde, o pastor foi ao shopping com a família e de repente a irmã o viu de longe. Telefonou para ele muito magoada e disse:
- “Pastor, o senhor não falou que tinha um compromisso domingo à tarde e não podia me atender?”
O reverendo respondeu:
- “Sim querida, claro que tenho!”
E ela continuou insistindo:
- “Mas eu vi o senhor com sua família no shopping!”
E ele concluiu educadamente:
- “É exatamente esse o meu compromisso. A minha família é o meu compromisso domingo à tarde”.
A pressão sobre a vida da família pastoral é tão intensa que o FDP passa ter como verdade que o seu pai “é o cara”.
Quando criança, eu sentia orgulho de um pai que servia a todos. Que estava sempre se dando, sem receber nada em troca. Foi ai que comecei a imaginar que meu pai parecia ser de ferro. Sempre com problemas dos outros para solucionar e não demonstrava cansaço.  Achava que ele era o super-herói do povo de Deus. Um herói popular cristão e que na concepção de muitos, não precisava ter reconhecimento.
Instaurou-se em minha mente que meu pai pastor tinha de sacrificar a família para cuidar de um povo. Com atitudes, fizeram-me crer nessa “verdade”. Eu não conseguia me enxergar incluído em textos como Isaías 40:11 que diz: “Como pastor apascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos, e os levará no seu regaço; as que amamentam guiará suavemente”. Eu achava que todos eram ovelhas, cordeirinhos, menos eu o FDP. Não tinha a idéia que eu também estava no meio desse rebanho, que fazia parte desse grupo de ovelhas. Afinal de contas, para mim ele era pastor dos outros e não meu.
Em I Timóteo 3:1b, o apóstolo Paulo escreve que “... Se alguém aspira ao episcopado, excelente obra deseja”. Sabe querido, demorei muitos anos para entender e aceitar isso, mas um dia eu pude ter a compreensão que meu pai era um pastor e que  ser pastor é ser chamado a uma missão especial. É ter uma vida de excelência com Deus e com os outros. É viver de forma digna, prazerosa e não um peso. Eu apaguei a marca do carimbo que estava impresso em mim sobre a exploração do pastor. Meu pai não era um homem que nasceu para levar a cruz dos outros, porque Jesus já fez na rude cruz.
Ser pastor para mim passou a ser sinônimo de amigo verdadeiro e compreensivo. Descobrir que meu pai poderia ser meu melhor amigo e recebi isso como verdade. Resolvi entender que só eu poderia decidir e aceitar quem era meu pai. Ele seria meu pastor também, mesmo que dissessem o contrário.
O que ele deixou de ser para muitos, para mim passou a ser tudo de bom porque o Senhor é bom e meu pai tinha a vida do meu Senhor.
Os Salmos 23:1 nos diz:  “O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará”. Nesse versículo enxerguei a configuração de um pastor do tipo de Deus, um pastor que cuida e que não deixa faltar comida, água, atenção, carinho, nem afagos. Não deixar faltar nada e nada significa nada mesmo. O verdadeiro pastor é aquele que sara as feridas, que trata colocando no colo, que tira os carrapichos, que tosa os pêlos e gasta tempo zelando de todas as suas ovelhas. Repito, todas as ovelhas. O Pastor de verdade não deixa faltar nada a ninguém, principalmente à sua família. E quando esses princípios são quebrados, vemos de imediato as conseqüências de destruição familiar.
Lembro-me com carinho dos momentos quando eu fazia algo de errado, meu pai pastor não precisava me bater para me ensinar alguma. Chamava-me pelo nome, fechava a porta do seu quarto e a beira da cama me perguntava com voz mansa e suave:
- “Filho, você acha que o que você fez foi certo? Você acha que Deus está feliz com sua atitude?”.
E a resposta era: - Não pai, não...
E ali, quando as lágrimas desciam de meu rosto, eram lágrimas de arrependimento. Lágrimas que escorriam em meus lábios com um gosto salgado, mas também tinham sabor de arrependimento, de amor, de compaixão. Era um instante que na minha cabeça de criança parecia mágico em minha vida. Eram cinco pessoas dentro de um quarto. Cinco? Sim, cinco. Eu, ele, Deus o pai celestial, o seu filho Jesus e Deus Espírito Santo estavam ali conosco. Eu sentia conforto, afago e misericórdia nas palavras de meu pai, instrumento vivo do meu Senhor. Cara a cara ele olhava para mim e dizia com amor:
- “Me dar um abraço filho”.
Em instantes, chegava a pensar que seria melhor uma surra ao ouvir aquelas palavras, mas no final de momentos como esse, saía leve como uma pluma. Ufa! Que coisa boa.
Eu sei que dias depois eu cometia os mesmos erros, mas meu pai pastor estava lá para dizer: “Filho, estou aqui e estou de olho em você”.
Claro, que algumas vezes fora necessário o uso da palmatória (instrumento usado no passado para disciplinar). Assumo que passei dos limites. Mas essas ações tomadas me fizeram bem.
E quantas e quantas vezes meus irmãos corriam a meu pai e me delatavam dizendo:
- “Pai, Luciel está perturbando de novo”. Às vezes nem era verdade, eles não queriam brincar eram comigo. Mas como eu era reincidente dos meus erros, meu pai pacientemente dizia:
- “Você pode até não ter feito alguma coisa, mas para evitar fazer, sente-se aqui perto de mim”.
Ah! Que ódio. Mas, eu adormecia do lado dele e passava a raiva outra vez.
Queridos, foi assim que comecei a ter meu pai junto de mim, me ensinando que ele era meu pai, mas era também meu pastor.
Ser pastor é isso. É ter a benevolência de Deus e transmitir aos outros. É ter a unção de Deus e transferir aos outros. É ser servo e não capacho. É ser um trabalhador do reino e não um mero empregado escravo. É ter a paciência e humildade para ouvir pessoas e também a capacidade vinda do alto para exortar e conduzir as ovelhas para onde elas devem andar, por caminhos seguros. Existe função mais digna? Posso te responder, não. Porque a palavra nos diz que é excelente. (I Timóteo 3:1b.)
E você FDP? Quando você entenderá que a benção do chamado de seu pai é estendida a você também? Ser FDP é um privilégio, é reconhecer que Deus chamou alguém pelo nome em uma missão e a sua família está inserida nesse grande projeto. Jamais Deus faria um plano pela metade. Jamais Deus traçaria um projeto de vida para alguém, prejudicando a sua família. Você é parte integrante da vontade do Senhor e a vontade Dele é “... boa, agradável e perfeita...” (Rm 12:2b). Não há imperfeições nos projetos divinos. Você é pedra fundamental no ministério de seu pai. Quer seja orando, ajudando, apoiando, participando.
Em Jeremias 29:11 a palavra do Senhor nos diz: “Pois eu bem sei os planos que estou projetando para vós, diz o Senhor; planos de paz e não de mal, para vos dar um futuro e uma esperança”. (versão NVI). Deus projetou sonhos, desenhou com seu poderoso lápis um planejamento de paz e não de decepção. Deus conta com você para fazer valer o projeto pensado para sua família e que atingirá milhares de pessoas. Todo esse projeto foi para dar as vidas perdidas um futuro de glória e de esperança através de Jesus cristo, tendo o ministério de sua família como instrumento nas mãos do nosso Pai a quem nos escolheu.
Não devemos ficar as margens do processo divino. Não fomos nós mesmos que escolhemos ser filhos de pastor e sim o próprio Deus foi quem fez a escolha. E por mais que tentemos fugir dessa realidade e mesmo que soframos com a desobediência, Deus não a mudará essa realidade.
Querido, quero motivá-lo a decidir agora mesmo desfrutar do que Deus tem de excelência para você e sua família sacerdotal. Os conceitos errados sobre a figura do pastor ficarão para trás quando você decidir avançar e crescer.
Não se aprisione ao passado, nem se acorrente ao presente, viva o futuro. Viva os sonhos que Deus tem para você intensamente. É com essa visão que temos visto tantos filhos de pastores brilhando na luz de Cristo e fazendo o Brasil inteiro conhecer o poder de Deus através de suas vidas, seus testemunhos e talentos. Exemplos como a família do Pr. Marcio Valadão (Ana Paulo, André a Mariana), a família do Apóstolo Renê Terra Nova, a Família do Pastor Silas Malafaia e muitos e muitos outros.
Receba o que Deus tem preparado para você e mostre ao mundo que antes de ser filho de pastor, você é um herdeiro da promessa (Gn 12:3). Você faz parte de uma geração eleita, sacerdócio real.
Viva tão somente a expectativa de Deus sobre a sua família e sobre o ministério de seu pai e seja bênção.

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