OBRIGADO PELA VISITA:

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

III CAPÍTULO


CAPÍTULO III
 CEIA, CELEBRAÇÃO OU CONDENAÇÃO ?




Desde criancinha, eu assistia na igreja todo tipo e modelo de culto imaginável. Culto de: celebração, fúnebre, adoração e louvor, aniversário, casamento, matutino etc. Um dia ouvi um cantor evangélico dizer uma frase que parece muito comigo: “Só não nasci na igreja porque no dia não tinha culto.” Isso refere-se a constante freqüência de uma família cristã evangélica nas programações da igreja local.
Lembro-me que muitas vezes acordava no final das madrugadas ouvindo os irmãos cantarem um hino do hinário batista, que diz: Bem de manhã, embora o céu sereno pareça um dia calmo anunciar. Vigia e ora, o coração pequeno, um temporal pode abrigar. Bem de manhã e sem cessar, vigiar e orar...”.  Aquela melodia tocava de forma profunda em meu coração e adentrava em minha mente como se estivesse me chamando a alguma coisa responsável, nobre, especial e que não conseguia explicar. Acordar ouvindo uma mensagem que falava do silêncio da manhã, onde a cidade ainda começava acordar, os crentes estavam ali, orando pelas pessoas daquela cidade e do país, era maravilhoso.

Ouvia pássaros e galos começando a cantar, o sol começando a sorrir. Eu ficava no quentinho da cama, debaixo do cobertor, mas a minha cabeça cheia de pensamentos e imaginações férteis. Era um momento de reflexão para mim. Momentos como esses é que se torna marcante na vida de um filho de pastor.
Acordar pela madrugada e ver o pai prostrado diante do Deus vivo, ir à igreja e vê-lo sendo usado por Deus como profeta e mensageiro de sua palavra, isso é simplesmente um privilégio sobrenatural,  um verdadeiro refencial de vida com Deus.
Mesmo participando de tantos cultos, nada me chamava mais a atenção do que a Ceia do Senhor. Era um instante intrigante e de muitos questionamentos em minha cabeça.
A Ceia teve vários momentos para mim. Era pequenino, apenas uma criança e não compreendia o real motivo daquele culto que se chamava “Ceia do Senhor”. Esperava a hora de sobejar um restinho do vinho no copinho de minha mãe. Ah, como queria beber daquele cálice, comer daquele pão quadradinho, queria ter o privilégio que os adultos estavam tendo. Será que Jesus não teria deixado eu participar daquela Ceia que era a celebração e lembrança de Sua morte. Sera? Só porque eu era uma criança?
Meu pai estava ministrando a Ceia e provavelmente ele não iria permitir uma “blasfêmia” dessas. Foi isso que nos ensinaram: “Ceia é coisa de gente grande”.

Mas eu apelava para minha mãe e dizia: Mãe, deixe só um pouquinho pra mim! E mãe você sabe como é, tolerante com o filho, sente os desejos do filho, sonha o que o filho sonha. E ela não era diferente das outras. Sabia perfeitamente que eu queria tomar o vinho para ser igual aos adultos. Ela sabia que eu queria ser importante, que era criança, mas queria participar da "festa". No entanto,  a religião ou a doutrina, abria uma brecha em seus estatutos humanos para reprimir um desejo de celebração verdadeiro. Os argumentos eram e são os mais esquisitos possíveis. Quem já viu uma criança participar da Ceia se ela não tem nem idade e nem responsabilidade pra participar desse momento? A ordem era privar as criancinhas de tão profunda lembrança do Senhor e da comunhão dos irmãos. Mas que comunhão segregadora era esta?  
Por essas e outras, me tornei em um verdadeiro ladrão de pão e vinho. As escondidas eu bebia o restinho do copo e me sentia salvo, mesmo contra a vontade dos adultos religiosos. Às vezes até me escondia debaixo do banco com o cálice pra ninguém ver, acobertado por minha mãe e ela ainda dizia, fica quieto aí. A partir daí, a Ceia passava a ser para mim, um momento de alguns, de gente grande, dos mais santos e eu não tinha idade para ser santo ainda.
Depois desse período, comecei a buscar outra forma de participar da Ceia às escondidas. Na minha pré adolescência, fiz amizade com os diáconos (e claro que eles estavam subordinados ao meu pai) e por ser “filho do pastor”, eles me ajudavam. Assim que terminava a celebração da Ceia, eu corria para parte de trás da igreja e em uma sala, que ficava só os diáconos, eu chegava com aquela cara de “me dê uma chance”. Quando eles abriam a bandeja, meus olhos brilhavam. Via que tinha sobrado os pães e os cálices cheios  e pensava comigo mesmo: " Agora sim, eu posso participar dessa Ceia e à vontade. Eu bebia todos os cálices e comia todos os pães. Mais uma vez me alegrava com a sobra da Ceia.
Um momento tão especial na igreja, passava a ser para mim uma condenação, uma batalha de esquemas escondidos para poder participar daquele culto tão especial. Um comungante, sem a comunhão da igreja.

E por falar em comunhão, eu não poderia ficar só nessa aventura. Comecei a chamar os filhos dos crentes que tinham a minha idade, para ficar comigo e fazermos uma Ceia entre nós. Uma ceia de resto de pães e vinhos, uma Ceia para encher a barriga. Tinha até confusão, mas os diáconos administravam dizendo: “calma pessoal, vai dar pra todos”. Tudo feito atrás das cortinas.
Mas o pior ainda estava por acontecer. Quando liam o versículo: "Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim, coma do pão e beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si" (1 Coríntios 11:27-29), entendia erradamente que a Ceia era um momento de peso, até porque só quem poderia participar  era membros da igreja, registrado e lavrado no cartório religioso, aqueles que estavam "sem mácula, sem pecado".
A palavra "indignamente" era freqüentemente mal entendida. Soava mal aos meus ouvidos. Não sabia que esta palavra descrevia o modo errôneo de participar da Ceia. Refere-se à pessoa que não leva a sério a celebração, que brinca  com o sacrifício de Cristo e seu sangue derramado na cruz. Para aqueles que tratam a Ceia do Senhor como um mero ritual, ou tomam levianamente e deixam de meditar no seu significado real, trazendo condenação a si diante de Deus, nos tornando, nesses casos, indignos para a celebração da ressuceição de Cristo.
Parte de minha vida recebi aquilo como algo aterrorizante. Achava que dia de Ceia era dia de peso. No mínimo, dia de bancar uma aparente santidade. Dia de passar o culto inteiro clamando perdão a Deus para não entrar em condenação.
A verdade é que para mim, um  “FDP”, rebelde como muitos falavam, tinha a Ceia como um momento de pausa santíssima ou de condenação momentânea. Como um dia poderia participar de uma comemoração que exigia tanta santidade? Era impossível. E os pecados que cometi na escola? As mentiras que contei aos coleguinhas? Os lanchinhos que roubei dos amiguinhos? Os piolhos que tirei da minha cabeça e coloquei na cabeça dos amiguinhos? E a vergonha que eu tinha de ir aos cultos de evangelismo público com meu pai, já que meu testemunho na escola era tão frágil? E agora? É, realmente essa tal Ceia do Senhor não era para mim. Pelo menos era o que eu imaginava.

DESCOBRINDO O VERDADEIRO SENTIDO DA CEIA

Depois de alguns anos de luta religiosa, me deparei com o verdadeiro sentido da Ceia. Entendi perfeitamente o que a palavra nos diz em Romanos 8:1: “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.” Eita Deus maravilhoso. Aleluia!
Recebi a palavra Rhema. A revelação chegava a minha mente. Luz havia chegado. Finalmente entendi que a Ceia é celebração, dia de festa, é  comemoração da nova Aliança, da Aliança de sangue que temos com Deus, através de Jesus Cristo, o cordeiro imaculado. Ceia é comunhão entre os salvos. É o momento de estarmos sentados à mesa do nosso Senhor como diz o salmista: "Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda" (Salmo 23:5)".

E a mesa  do Senhor é mesa de compromisso,  mesa de comunhão, de perdão, mesa de fartura espiritual. É memorial para lembrar o sacrifício vicário de Cristo, que morreu, mas ressuscitou ao terceiro dia dentre os mortos para a glória de Deus. Aleluia!
E o apóstolo Paulo reafirma em Coríntios 11:23-26:

"Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão;
E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim.
Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim.
Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha."

Assim, aprendi que:  

A celebração é em memória DEle e pare Ele;
O cálice representa a nova Aliança de Graça;
Temos uma esperança que é a volta do Senhor Jesus.

Ceia do Senhor é estar diante da mesa e nos examinarmos. É hora de fazer uma auto análise e não de julgamentos a outros. É reconhecer que estamos na posição que Cristo nos assegurou, de justiça de Deus, co-herdeiros com Cristo. É tempo de ratificação com Deus, tempo de cura, de prosperidade , de provisão. É tempo de lembramos que Jesus é o pão da vida. Ele foi moido por nossas transgressões e se fez pecado por nós, para nos dar tão grandiosa salvação.
Aleluia! Glorificado seja seu Nome.
Como diz um pastor americano: Ceia do Senhor é:
"Passado: Olhamos para trás, para o sacrifício que Jesus fez na cruz. Entendemos isto como sendo o fundamento e o centro de nossa salvação.

Presente: Quando meditamos no terrível preço que Jesus pagou para nos redimir de nosso pecado, nossa decisão de resistir à tentação é fortalecida.

Futuro: Entendemos que a morte de Jesus é a base de nossa esperança, e assim proclamamos nossa fé nele quando olhamos em frente para a volta do Senhor e para nossa salvação eterna. "

Glorificado seja o nome do Senhor pela vitória na Cruz que nos fez verdadeiramente LIVRES.

“Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. João 8.31-32)

Um dia, eu, um FDP, entendi o que a palavra me diz e comecei a viver o poder dessa palavra.

II CAPÍTULO

CAPÍTULO II

 O QUE PENSAVAM (OU ATÉ PENSAM) SOBRE UM PASTOR?




Muitas coisas relevantes aconteceram na trajetória do ministério de meu pai pastor e que nos ajudaram a crescer como pessoa.
É importante frisar a idéia ou as idéias que a maioria das pessoas tem sobre o episcopado, não como honra ou genuíno sacerdócio, mas como uma mera função ministerial.
Pastor foi ou ainda é para alguns, sinônimo de um super homem. Além de tantas atividades e compromissos que envolvem sua vida, tais como: o cuidado com as vidas, ser um líder cristão que representa a igreja ante a sociedade, as responsabilidades eclesiásticas e tantas outras coisas, o pastor passou a ser uma espécie de “faz de tudo”. Quem sabe um querubim sem asas de recados divinos, um vice-onisciente ou um vice-onipresente”.
Atividades simples, que poderiam ser realizadas por pessoas qualificadas em áreas específicas, o pastor somar essas atividades ou funções em seu vasto currículo, mesmo que essas atividades o afastem do foco principal, fazendo-o cumprir o ditado, agora por mim modificado: “Não tem tu, vai o pastor mesmo”.
Diga-se de passagem, que em não raras ocasiões, o pastor tem que fazer das “tripas coração” para trocar a luz do templo ou até mesmo pagar as contas da igreja (quando a tesoureira não pode efetuar os pagamentos).
Por esta concepção, pastor que é “pastor”, até ganha alguns presentes em seu aniversário, mesmo que seja pago pelo próprio bolso, fato esse que aconteceu no ministério de meu pai.
Outra coisa administrativamente impactante na vida de um pastor é o fator tempo. É tempo para realizar visitas, ler a Bíblia e muitos outros livros. Tempo para orar, jejuar, apascentar (cuidar e tratar) as ovelhas. Tempo para ouvir problemas alheios e ajudar pessoas. É uma preciosidade na vida deste super dotado, como é na vida de qualquer outro tipo de gestor.
O pastor tem que ser psicólogo, um conselheiro certeiro, sem direito a margens de erro em suas vidências cristãs.
Uma vez meu pai ouviu a seguinte frase, que parece engraçada para não ser trágica:
- “Pastor eu vim aqui pra o senhor me ajudar, porque o senhor é o delegado dos crentes.” Era essa uma das absurdas idéias adotadas pelo o povo de pequenas igrejas do interior.
É um homem incomum, sem horários indisponíveis para a igreja. Não existe um só momento que ele não esteja atento, pois a qualquer momento pode chegar uma ovelha em sua casa para contar seus problemas.  Aliás, há irmãos que procuram o pastor sem nem saber o que realmente vão falar. Na hora inventam qualquer coisa, só para estar perto do santo de Deus.
Às vezes, chegam pessoas exatamente na hora do almoço e vão compartilhando algumas coisas de mansinho. Claro que sempre aproveitam e fazem o pacote completo. Comem sem nem querer saber se a comida preparada dar para todos. Daí vem à correria do FDP mudar o seu cardápio forçadamente. De imediato houve-se a famosa frase recitada em casa de pastor: “Frita um ovo ligeiro ai para interar o almoço do menino”.
Lembro-me muito bem quando aconteciam as grandes festas na igreja. Chegavam crentes de todas as partes e nossa casa se tornava na hospedaria principal. O mais interessante era na hora de todo esse povo dormir. Eu já ficava em pânico quando minha mãe ia arrumando as camas. Todos acomodados e distribuídos com lençóis limpinhos e fofinhos, mas eu logo perguntava:
- Mãe, onde vamos dormir?
A resposta era sempre a mesma:
- “No colchão que coloquei no quarto de seu pai para você e seus irmão. Vá lavar os pés e pule na cama ligeirinho”.
Queridos, a cabeça de um FDP nessas horas vai a mil. Os questionamentos são inúmeros, as dúvidas são imensas e as principais ladainhas fihopastoreanas são: “O que é que eu tenho haver com isso?” “Meu pai é chamado e eu tenho que ser sacrificado?”.
O interessante ainda é que o pastor tem que demonstrar que está tudo sobre controle em todas as situações. O autocontrole tem que ser sempre sobrenatural.  Na cabeça de muitos ele é um ser superior, quase que “anormal”. Não pode ter indisposição física. Não pode nem passar pela cabeça dele ter um lazer sozinho e nem ao pouco passear com a família. Todo mundo têm direito de viver seus momentos de lazer, ele não. Afinal, muitos acham que ele é pago pra viver, sem viver o que os “normais” vivem.
O pastor que realizou meu casamento é um especialista em assuntos familiares. Ele conta que certa vez, uma irmã solicitou disponibilidade em sua agenda para um aconselhamento num domingo a tarde. Ele marcou outra data por ter compromissos naquela ocasião. Chegando domingo à tarde, o pastor foi ao shopping com a família e de repente a irmã o viu de longe. Telefonou para ele muito magoada e disse:
- “Pastor, o senhor não falou que tinha um compromisso domingo à tarde e não podia me atender?”
O reverendo respondeu:
- “Sim querida, claro que tenho!”
E ela continuou insistindo:
- “Mas eu vi o senhor com sua família no shopping!”
E ele concluiu educadamente:
- “É exatamente esse o meu compromisso. A minha família é o meu compromisso domingo à tarde”.
A pressão sobre a vida da família pastoral é tão intensa que o FDP passa ter como verdade que o seu pai “é o cara”.
Quando criança, eu sentia orgulho de um pai que servia a todos. Que estava sempre se dando, sem receber nada em troca. Foi ai que comecei a imaginar que meu pai parecia ser de ferro. Sempre com problemas dos outros para solucionar e não demonstrava cansaço.  Achava que ele era o super-herói do povo de Deus. Um herói popular cristão e que na concepção de muitos, não precisava ter reconhecimento.
Instaurou-se em minha mente que meu pai pastor tinha de sacrificar a família para cuidar de um povo. Com atitudes, fizeram-me crer nessa “verdade”. Eu não conseguia me enxergar incluído em textos como Isaías 40:11 que diz: “Como pastor apascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos, e os levará no seu regaço; as que amamentam guiará suavemente”. Eu achava que todos eram ovelhas, cordeirinhos, menos eu o FDP. Não tinha a idéia que eu também estava no meio desse rebanho, que fazia parte desse grupo de ovelhas. Afinal de contas, para mim ele era pastor dos outros e não meu.
Em I Timóteo 3:1b, o apóstolo Paulo escreve que “... Se alguém aspira ao episcopado, excelente obra deseja”. Sabe querido, demorei muitos anos para entender e aceitar isso, mas um dia eu pude ter a compreensão que meu pai era um pastor e que  ser pastor é ser chamado a uma missão especial. É ter uma vida de excelência com Deus e com os outros. É viver de forma digna, prazerosa e não um peso. Eu apaguei a marca do carimbo que estava impresso em mim sobre a exploração do pastor. Meu pai não era um homem que nasceu para levar a cruz dos outros, porque Jesus já fez na rude cruz.
Ser pastor para mim passou a ser sinônimo de amigo verdadeiro e compreensivo. Descobrir que meu pai poderia ser meu melhor amigo e recebi isso como verdade. Resolvi entender que só eu poderia decidir e aceitar quem era meu pai. Ele seria meu pastor também, mesmo que dissessem o contrário.
O que ele deixou de ser para muitos, para mim passou a ser tudo de bom porque o Senhor é bom e meu pai tinha a vida do meu Senhor.
Os Salmos 23:1 nos diz:  “O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará”. Nesse versículo enxerguei a configuração de um pastor do tipo de Deus, um pastor que cuida e que não deixa faltar comida, água, atenção, carinho, nem afagos. Não deixar faltar nada e nada significa nada mesmo. O verdadeiro pastor é aquele que sara as feridas, que trata colocando no colo, que tira os carrapichos, que tosa os pêlos e gasta tempo zelando de todas as suas ovelhas. Repito, todas as ovelhas. O Pastor de verdade não deixa faltar nada a ninguém, principalmente à sua família. E quando esses princípios são quebrados, vemos de imediato as conseqüências de destruição familiar.
Lembro-me com carinho dos momentos quando eu fazia algo de errado, meu pai pastor não precisava me bater para me ensinar alguma. Chamava-me pelo nome, fechava a porta do seu quarto e a beira da cama me perguntava com voz mansa e suave:
- “Filho, você acha que o que você fez foi certo? Você acha que Deus está feliz com sua atitude?”.
E a resposta era: - Não pai, não...
E ali, quando as lágrimas desciam de meu rosto, eram lágrimas de arrependimento. Lágrimas que escorriam em meus lábios com um gosto salgado, mas também tinham sabor de arrependimento, de amor, de compaixão. Era um instante que na minha cabeça de criança parecia mágico em minha vida. Eram cinco pessoas dentro de um quarto. Cinco? Sim, cinco. Eu, ele, Deus o pai celestial, o seu filho Jesus e Deus Espírito Santo estavam ali conosco. Eu sentia conforto, afago e misericórdia nas palavras de meu pai, instrumento vivo do meu Senhor. Cara a cara ele olhava para mim e dizia com amor:
- “Me dar um abraço filho”.
Em instantes, chegava a pensar que seria melhor uma surra ao ouvir aquelas palavras, mas no final de momentos como esse, saía leve como uma pluma. Ufa! Que coisa boa.
Eu sei que dias depois eu cometia os mesmos erros, mas meu pai pastor estava lá para dizer: “Filho, estou aqui e estou de olho em você”.
Claro, que algumas vezes fora necessário o uso da palmatória (instrumento usado no passado para disciplinar). Assumo que passei dos limites. Mas essas ações tomadas me fizeram bem.
E quantas e quantas vezes meus irmãos corriam a meu pai e me delatavam dizendo:
- “Pai, Luciel está perturbando de novo”. Às vezes nem era verdade, eles não queriam brincar eram comigo. Mas como eu era reincidente dos meus erros, meu pai pacientemente dizia:
- “Você pode até não ter feito alguma coisa, mas para evitar fazer, sente-se aqui perto de mim”.
Ah! Que ódio. Mas, eu adormecia do lado dele e passava a raiva outra vez.
Queridos, foi assim que comecei a ter meu pai junto de mim, me ensinando que ele era meu pai, mas era também meu pastor.
Ser pastor é isso. É ter a benevolência de Deus e transmitir aos outros. É ter a unção de Deus e transferir aos outros. É ser servo e não capacho. É ser um trabalhador do reino e não um mero empregado escravo. É ter a paciência e humildade para ouvir pessoas e também a capacidade vinda do alto para exortar e conduzir as ovelhas para onde elas devem andar, por caminhos seguros. Existe função mais digna? Posso te responder, não. Porque a palavra nos diz que é excelente. (I Timóteo 3:1b.)
E você FDP? Quando você entenderá que a benção do chamado de seu pai é estendida a você também? Ser FDP é um privilégio, é reconhecer que Deus chamou alguém pelo nome em uma missão e a sua família está inserida nesse grande projeto. Jamais Deus faria um plano pela metade. Jamais Deus traçaria um projeto de vida para alguém, prejudicando a sua família. Você é parte integrante da vontade do Senhor e a vontade Dele é “... boa, agradável e perfeita...” (Rm 12:2b). Não há imperfeições nos projetos divinos. Você é pedra fundamental no ministério de seu pai. Quer seja orando, ajudando, apoiando, participando.
Em Jeremias 29:11 a palavra do Senhor nos diz: “Pois eu bem sei os planos que estou projetando para vós, diz o Senhor; planos de paz e não de mal, para vos dar um futuro e uma esperança”. (versão NVI). Deus projetou sonhos, desenhou com seu poderoso lápis um planejamento de paz e não de decepção. Deus conta com você para fazer valer o projeto pensado para sua família e que atingirá milhares de pessoas. Todo esse projeto foi para dar as vidas perdidas um futuro de glória e de esperança através de Jesus cristo, tendo o ministério de sua família como instrumento nas mãos do nosso Pai a quem nos escolheu.
Não devemos ficar as margens do processo divino. Não fomos nós mesmos que escolhemos ser filhos de pastor e sim o próprio Deus foi quem fez a escolha. E por mais que tentemos fugir dessa realidade e mesmo que soframos com a desobediência, Deus não a mudará essa realidade.
Querido, quero motivá-lo a decidir agora mesmo desfrutar do que Deus tem de excelência para você e sua família sacerdotal. Os conceitos errados sobre a figura do pastor ficarão para trás quando você decidir avançar e crescer.
Não se aprisione ao passado, nem se acorrente ao presente, viva o futuro. Viva os sonhos que Deus tem para você intensamente. É com essa visão que temos visto tantos filhos de pastores brilhando na luz de Cristo e fazendo o Brasil inteiro conhecer o poder de Deus através de suas vidas, seus testemunhos e talentos. Exemplos como a família do Pr. Marcio Valadão (Ana Paulo, André a Mariana), a família do Apóstolo Renê Terra Nova, a Família do Pastor Silas Malafaia e muitos e muitos outros.
Receba o que Deus tem preparado para você e mostre ao mundo que antes de ser filho de pastor, você é um herdeiro da promessa (Gn 12:3). Você faz parte de uma geração eleita, sacerdócio real.
Viva tão somente a expectativa de Deus sobre a sua família e sobre o ministério de seu pai e seja bênção.

I CAPÍTULO

CAPÍTULO I 
INÍCIO DE MINISTÉRIO, AVENTURA CERTA.


De uma geração de doze, eu sou o nono filho de um pastor evangélico com nome de José Rodrigues, que nasceu no interior de Pernambuco e de dona Armandina Mendes, também pernambucana, mas da capital Recife. Na época dos meus pais, que norteou meados das décadas de 40 a 80, as dificuldades eram enormes em todas as áreas.
Meu pai também veio de família grande e por conseqüência cultural, herdou essa concepção de muitos filhos. Gente humilde da roça, que por promessa religiosa, tinha quatro irmãos chamados “José Rodrigues da Silva” e com ele, perfazia o total de cinco filhos homônimos. Os nomes era em honraria a José, pai de Jesus. As suas irmãs receberam também a honraria do nome da mãe de Jesus, perfazendo ao todo cinco “Marias”: Maria Rodrigues, Maria Bernadete, Maria das Neves, Maria de Lourdes, e uma das Marias que faleceu aos quatro anos de idade. Claro que depois de adultos, três dos homens mudaram seus nomes.
Lembro-me que ele contava a história que quando a família estava na roça arando a terra, o meu avô dizia:
_ Meu filho, Porque você fica com essa enxada na mão só olhando e não trabalha como os outros?
E ele respondia:
_ “É porque eu não nasci pra isso...”
Realmente, meu pai tinha uma meta na vida. Queria estudar e deixar o trabalho da roça.
Um dia saiu do interior do estado de Pernambuco, de um povoado denominado Chã da Capoeira e seguiu em direção à cidade de Paudalho , onde começou a trabalhar, a fim de realizar o sonho. Nesta localidade, trabalhou no balcão de uma mercearia, período o qual aceitou a Jesus Cristo como seu Salvador. Voltando a Chã da Capoeira para noticiar a sua conversão ao evangelho, a reação dos pais foi o que já se esperava de uma família rigorosamente católica. Seus pais não aceitaram a conversão e o expulsou de casa. Um balde de água fria, mas compreensível para uma família que era arraigada em um fundamentalismo religioso.
Concluindo o ensino fundamental, mudou-se para Recife. Estudou num conhecido seminário batista da época e cursou teologia e música sacra. Para se manter, passou a ser um vendedor ambulante, que na época chamavam de “mascate”. Vendia cochas, cortinas, lençóis e roupas em geral de porta em porta.
Certo dia nessas vendas à domicílio, fez uma venda de cortinas de renda a uma senhora chamada Damaris que graças a Deus viria a ser minha avô materna. Terminada a venda, ele partiu e já bem distante dona Damaris olhou o rapaz e disse com sotaque bem nordestino a uma vizinha:
-  “ Eita, se minha filha Armandina arrumasse um moreninho desses pra casar, bem que eu queria.”
Imediatamente, a filha, que na época era jovem e bonita, retrucou dizendo:
_ “Oxe, mãe tem cada idéia...!
A partir desta data, os dois se encontravam ocasionalmente pela cidade. Como diz o ditado, “sem querer querendo”.
Quando o jovem José ia receber as mensalidades com dona Damaris e ela não estava, quem pagava as contas era a Jovem moça. Sempre se cumprimentando de forma cordial e respeitosa.
Nessa época Armandina  juntamente com sua mãe já haviam se convertido ao evangelho.
Certa vez foi com uma amiga assistir um culto de domingo na Assembléia de Deus do bairro de Casa Amarela em Recife. Terminando o culto, como a igreja era enorme, ela se perdeu da amiga. Foi para casa conversando com outras irmãs e falou:
“_ Vou fazer como a irmã do circulo de oração falou, vou começar pedir a Deus uma marido para não andar mais sozinha a noite”.
Meu pai vinha atrás como seu irmão e ouviram quando minha mãe declarou aquilo. O irmão disse:
“_Olhe eu aqui...”
E meu pai refutou:
“_ Oxente, tu já tem a tua, deixa essa para mim”.
Daí por diante, meu pai começou a se aproximar e a pediu em namoro. Claro que minha mãe disse que ia pensar no caso e pediu três dias para dar a resposta. Confirmado o namoro, depois de ter falado com minha avó, uma semana depois já estava com as alianças para oficializar o noivado.
O padastro dela, um homem rigoroso e não evangélico, não aprovou a idéia, relutou e disse que não dava a mão para o futuro matrimônio. Mas sua mãe os abençoou e disse que seria com maior alegria que daria a mão da filha.
Certo dia, meu pai que ainda era seminarista, foi pregar em um culto evangelístico bem atrás da casa de sua noiva (minha mãe). Logo que terminou o culto, alguns irmãos de plantão avisaram o que tinha acontecido:
- "Meu irmão, sua futura sogra e sua noiva levaram uma tremenda surra do esposo/padastro".
Imediatamente, ele correu a casa e procurou saber o que havia acontecido. A surra tinha endereço certo. Era a indignação daquele homem por não aprovar o relacionamento de sua enteada com alguém evangélico, pobre e negro. Foi algo humilhante para meu pai, mas foi daí que brotou a coragem de lutar pela vida, lutar por um amor que traria frutos aprovados não por homens, mas pelo nosso Deus.
Meu pai alugou uma casa, mobilhou e chamou o pastor Machado, pastor da segunda igreja batista de Casa Amarela em Recife, para realizar o casamento no dia 28 de fevereiro de 1952.
O jovem José Rodrigues tinha expectativa quanto ao casamento. Almejava um filho homem e o chamaria Alex.


A jovem Armandina engravidou, mas com dois meses de gestação, perdeu uma bebêzinha. Logo depois voltou a engravidar de outra menina que recebia o nome de Alexina, nome versão feminina do filho que não veio. Pela segunda vez nasceu uma mulher, a primogênita viva.
Eram tempos difíceis e que os trabalhos de partos eram realizados por mulheres que eram chamadas parteiras ou aparadeiras. Os partos eram feitos na própria casa da gestante.
Certa vez meu pai foi fazer uma conferência em uma igreja em Moreno, interior de pernanbuco, e deixou Alexina aos cuidados de uma irmã e levou minha mãe. No culto, o pastor da igreja foi cantar uma música e chamou a filha Semírames para cantar juntos. Imediatamente minha mãe se encantou com o nome da moça e disse a meu pai que o nome da próxima filha seria Semírames. E assim foi feito.
Depois do nascimento da filha Semírames, ele se formou em teologia e musica sacra. Tinha no coração um desejo de ser missionário na Bolívia, mas Deus os levou para a Bahia. Com duas filhas, partiu em um navio para a nova terra, em direção a Santo Antônio de Jesus. O convite para o ministério inicial veio do pastor Albertino Lira, que recebeu a família em plena época de carnaval. Ficaram numa pensão e no dia seguinte pegaram o trem para Nazaré das Farinhas. Desta cidade,  pegaram outro transporte para a cidade de Santo Antônio de Jesus, cidade onde receberam as instruções e informações de como seria seu primeiro ministério. Depois de três dias foram em direção a cidade de Sapeaçú.
A “aventura” estava instalada. Uma família que decidiu seguir viajando de fé em fé, de glória em glória. Não tinha casa certa para morar e inicialmente fora deixada no fundo da igreja, em uma residência pequena. Era uma casa típica de fazenda, só tinha um quarto, uma cozinha, fogão a lenha e na frente era a igreja. Minha mãe só saia quando não tinha culto, pois não dava pra ficar passando no meio da igreja durante as reuniões. As opções eram ficar presa dentro de casa cuidando das filhas ou ir ao culto.
Os crentes davam muitas frutas e verduras como presentes e a família passou muitos meses sem fazer compras. Não se fazia nem feijão nem comida de panela para poder consumir todo esse material.
Conta minha mãe que um dia chegou um irmão da igreja, pegou uma esteira de junco (palha) e exclamou de forma grosseira:
- Irmã, ta aqui a sua “empregada”.
Ela ficou assustada olhando e ele continuou:
- Quando tiver fazendo as coisas dentro de casa, coloque suas filhas para dormir na esteira.
Minha mãe respondeu:
- Ta certo, o senhor ta mandando, eu faço.
A vida ia passando, as experiências de sobrevivência e dependência de Deus iam acontecendo, mesmo que as vezes viessem humanamente de forma amarga.
Meu pai foi ser pastor de uma igreja batista em  Cruz das Almas durante cinco anos. Nesta cidade baiana nasceram Ádina, respectivamente Acilene e Alionaide. Agora as filhas nascidas eram cinco.
Em meados dos anos sessenta, meu pai foi convidado a pastorear a igreja batista da cidade de Ruy Barbosa, ainda no Estado da Bahia. A igreja localizava-se na praça principal onde tinha a feira da cidade. Nesta cidade foi onde  aprendeu a tocar acordeon (safona). Ali, nasceram Sandra em 1961 e o filho homem tão esperado. Leonardo, que atualmente é pastor em Olinda, Pernanbuco, nasceu em 1962, ano do golpe militar de Getúlio Vargas.
Minha mãe engravidou também de outro filho chamado Lael, mas não sobreviveu. A filha da vizinha levou uma queda e a mãe estava grávida também. Para não assustar a mãe, levaram-na para casa dos meus pais onde aconteceu o susto de minha mãe. Com uma semana minha mãe começou a se sentir mal e perdeu a criança.
Muita tristeza na família. Muito sofrimento, pois seria mais um menino. Eles enterraram o bebê no fundo do quintal, costume da época naquela cidade.
Um ano depois, em 1965, minha mãe engravida novamente. Agora era a minha vez.
No ano seguinte, meu pai foi pastorar a igreja Batista Belém na cidade de Alagoinhas, próximo uma hora e meia da capital baiana Salvador.
Em Alagoinhas, perderam mais um filho homem e depois nasceu a última filha chamada Aléxia Susan. Ao todo foram dose filhos, mas nascidos vivos foram nove.
Imagina-se toda essa saga de nossa família. Nove crianças, um ministério interino. As dificuldades eram imensas.
Até as roupas eram feitas iguais para todas as meninas. Compravam uma peça só de tecido para fazer os vestidos porque era mais barato.
Na igreja, o banco da frente era sempre reservado aos nove filhos. Se houvesse algum barulho na hora da pregação, os primeiros a serem chamados atenção eram os filhos do pastor. Se um filho de pastor já é cobrado, pense em uma família com nove.
Algumas igrejas alegavam que não podiam convidá-lo para um ministério porque não tinha como remunerar um pastor com tantos filhos.
Em uma dessas cidades, tinha um diácono da igreja que tinha seis filhos e era funcionário público. Um dia ele foi em nossa casa ver como estávamos vivendo e percebeu cada detalhe da vida do pastor. No dia seguinte, reuniu a diretoria da igreja sem a presença do meu pai e disse:
- Como pode acontecer o que eu vi. Cheguei à casa do pastor e todos os filhos dele estavam comendo arroz. Eu sou funcionário público não dou arroz aos meus filhos. Como pode um pastor fazer isso?
Eram essas as concepções que se tinham da família de um pastor na época. Será que alguma coisa mudou em nossos dias?
Ao final dos anos sessenta, meu pai começou a viver a cultura das igrejas da época. Por qualquer motivo colocavam um pastor pra fora do ministério e sem direitos a nada. Não tinham a mínima preocupação de que o pastor iria viver e como família, sofremos as conseqüências de tudo isso. Mas como nossos pais tinham uma fé impressionante, Deus sempre supria as necessidades. Nunca passamos fome, nunca o Senhor nos abandonou.
Pai fez parte de um grupo dos treze pastores, que no estado baiano escreviam veementemente contra o movimento de renovação espiritual que assolou as igrejas batistas na década de sessenta. Mas contraditoriamente, sempre foi um pastor que passava muitas horas de oração e por isso depois pagou um preço alto, deixando forçadamente ministérios que não aceitavam pregações cheias de unção e consideradas como uma afronta aos princípios tradicionais.
Em 1970, fomos morar em Paulo Afonso, em pleno ano da copa do mundo. Foi ser pastor de uma igreja batista da cidade, onde comentavam que ele seria mais um de muitos que passaram por aquela igreja. Ficou até 1972, suspeita confirmada.
Neste ano, ele viajou e deixou a autorização para minha mãe receber o seu salário pastoral nas mãos do tesoureiro, mas o tratamento da pessoa na ausência de meu pai era meio que deselegante e foi ai que minha mãe irou-se, tomando a decisão de procurar um trabalho aos trinta e seis anos de idade. Deus ouviu suas orações e abriu as portas na CHESF, empresa federal, onde trabalhou 24 anos até se aposentar.
Essa decisão foi de extrema importância. Através de seu esforço e companheirismo ao ministério de meu pai, minha mãe gerou oportunidades de estudo melhor aos filhos e de maior qualidade de vida. Muitos fizeram cursos profissionalizantes e nos preparamos para a vida profissional de forma digna.
Dona Armandina foi uma heroína, uma mulher que viveu a frente de seu tempo. Com apenas o estudo dos primeiros anos do primário, criou todos os seus irmãos, pois o pai havia falecido e viveu como esposa de pastor de forma a enfrenta todas as diversidades da época. Ouviu e viu muita coisa que não condiz com o amor do evangelho,mas soube sabiamente superar todos os momentos que a vida lhe impôs.
Meu pai foi pastor da igreja batista evangelizadora, onde viveu renovação espiritual no seu ápice e por isso trouxe concepções doutrinárias divergentes de seu ministério, portanto gerou três novas igrejas: a Igreja Tabernáculo Batista (Onde ficou até a sua morte em 1988, com 63 anos de idade e 34 anos ministério), a Igreja Batista do Bairro Rodoviário e o grupo que permaneceu como tradicionais formando a Igreja Batista Central.
Como filhos de pastor, eu e meus irmãos vivemos todas essas fases do ministério de nossos pais e pode-se imaginar o que se passava na cabeça de cada um daquelas crianças e jovens. O que cada um dos filhos criou dentro de si como leitura do que realmente é o evangelho? Era a visão viva da igreja local focada pelo prisma de um filho de pastor. Era como dar um zoom na mente de pessoas que estavam em cima do lance.
Cada filho viu, viveu e sentiu de uma forma diferenciada a história pastoral. Uns no campo da revolta, outros como aprendizagem de vida e bênção. Cada um com sua visão de mundo, com suas experiências profundas. E isso é o que construiu a nossa saga sacerdotal e creio que ainda constrói essa vida complexa de ser um FDP.

INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO


“Faz tudo isso porque é filho do pastor.”... “Só por que é o filho do pastor, sabe tocar todos os instrumentos e tem todos os dons.”... “Pense numa criança rebelde.”...”O pai só não ver as coisas que o filho faz”...”Só podia ser o filho do pastor”.”Esse filho do pastor é um chato”.



Quem já não ouviu frases como estas? Palavras como: indisciplinado, confuso, desobediente, amostrado, sabe-tudo, hiperativo, insolente e até insuportável, são palavras que norteiam a vida “cansável” e cobrada de filho de pastor. É bem verdade que por nascer em um lar de intensas atividades e no meio de muita gente, o filho do líder evangélico já cresce sem privacidade, sem ter um tempo dedicado especificamente para ele, até porque os pais sempre estão envolvidos em muitas das atividades do ministério.
O desejo de escrever este livro nasceu de uma longa experiência de vida como filho de um homem de Deus, que através de seu ministério e ensinamentos, deixou um legado de vida e testemunho fiel a Cristo. Mas, deixou também filhos que viveram nas décadas passadas, a difícil caminhada rotulada de “filhos de pastor” e que como milhares, são vistos com olhos que quase sempre não são os de Cristo. Ser filho de um ministro eclesiástico é ser visualizado pelo olhos da impaciência ou da intolerância, pelos olhos dos acusadores gospel de plantão.
Para facilitar o entendimento, de agora por diante chamaremos o personagem principal das nossas histórias de FDP (filho de pastor). Mas você pode estar perguntando nesse momento porque FDP? Como sempre fui muito andarilho nos caminhos da internet e por conseqüência visitante e criador de comunidades do Orkut, encontrei uma comunidade com esse nome e que reúne filhos de pastores, com as suas mais engraçadas histórias de vida. Daí, surgiu a idéia de escrever esse livro autobiográfico, utilizando essas iniciais.
Geralmente, o indivíduo caracterizado como FDP, é utilizado como a grande oportunidade de muitos se vingarem do homem que fez alguma exortação a alguém e essa pessoa não recebeu com amor a palavra proferida. Ele é a figura ideal para que possam expressar sentimentos escondidos no mais profundo interior, é a oportunidade de imputar no outro a falta de compromisso no reino de Deus ou a alegria de ter achado um “bode expiatório” para justificar a inércia que se esconde por trás de muitos na igreja. O FDP é o melhor alvo para projetarmos aquilo que somos e não temos coragem de expressar, aquilo que queremos fazer de ruim e não temos coragem de assumir, então é mais fácil acusar alguém que nos parece ser tão emblemático. Afinal de contas, na concepção da grande maioria, quem teoricamente pratica todas as mazelas da igreja local é o bendito FDP.
O que será que esse ser tão amado por alguns e perseguido por tantos tem a nos ensinar? Convido você a fazer essa viagem reflexiva e tenho certeza que muitos se identificarão com algumas histórias engraçadas, algumas traumatizantes, outras até interessantes, mas que nos chamam atenção para o fato de que o FDP é igual a qualquer outra pessoa, é gente como a gente.

PREFÁCIO

EM CONSTRUÇÃO:

SUMÁRIO

EM CONSTRUÇÃO:

01 - PREFÁCIO
02 - INTRODUÇÃO
03 - CAPÍTULO I - INÍCIO DE MINISTÉRIO, AVENTURA CERTA
04 - CAPÍTULO II - O QUE PENSAVAM (OU ATÉ PENSAM) SOBRE UM PASTOR
05 - CAPÍTULO III - CEIA DO SENHOR, CELEBRAÇÃO OU CONDENAÇÃO?
06 - CAPÍTULO IV - SOCORRO, ROUBARAM MEU PAI!